O Hino Nacional

Quando entra setembro no nosso hemisfério, as pessoas imediatamente associam o mês à estação e, consequentemente, às flores.  No Brasil setembro também é reservado para as comemorações de um episódio emblemático ocorrido no dia 7 do longínquo 1822, ou seja, nossa Independência – ou ela ou a morte, como bradou Dom Pedro I.

Tão emblemática quanto a Independência é a figura de D. Pedro I, que pertencia às duas Casas Imperiais, os Orleans e os Braganças.  Seu nome completo, quem sabe para matar o tempo como fazem aqueles que se dedicam a fazer palavras cruzadas hoje em dia, deve ter tomado de seus pais muitas horas de reflexão e provavelmente nem o próprio D.Pedro I sabia dizê-lo completo, composto de 18 identificações. Certamente ele andava com uma “cola” no bolso para quando fosse necessária a assinatura de documentos oficiais.

D. Pedro notabilizou-se pela declaração da Independência do Brasil e também nas artes de “pular a cerca”, tendo sido um prevaricador com histórico conhecido inclusive no além-mar. E era também um artista interessante, tendo composto várias peças clássicas infelizmente muito pouco conhecidas e menos ainda divulgadas dando a impressão, para muitos, de que somente musicou o Hino da Independência, que tem a letra de Evaristo da Veiga. O Credo, de D. Pedro é lindíssimo, e o que dizer do Te Deum, um Ato de Glória a Deus? Ele compunha, cantava e executava vários instrumentos.

Mas já que estou no campo musical e discorrendo sobre a figura de D. Pedro I, é oportuno contar um fato interessante e pouco revelado, também.

Quando D. Pedro I resolveu voltar à Portugal para restabelecer o trono de lá que estava sendo usurpado de sua filha, Maria da Glória, pelo próprio marido, que também era seu tio, teve de abdicar ao trono brasileiro em favor de seu filho Pedro II.

Nessa ocasião, como era comum em todas as datas especiais, fizeram um hino para registrar o episódio e este foi escrito por Ovídio Saraiva, com música de Francisco Manuel da Silva. Chamado Hino da Abdicação, extremamente longo, em algumas estrofes destacava que “os bronzes da tirania/ Já no Brasil não rouquejam/ Os monstros que a escravizam/ Já entre nós não vicejam/ Eis se desata/ do Amazonas/Até o Prata“.  Uma série de versalhadas cheias de arroubos e bravatas, mas a melodia pegou em cheio no coração do brasileiro desde o primeiro instante.

Ouça parte do hino no player abaixo, certamente você se dará conta de que a conhece e também se emocionará ao escutá-la na interpretação da cantora de câmara Luiza Sawaia acompanhada do pianista Aquile Pich.

http://webcast.sambatech.com.br/002E76/account/65/8/media/audio/2c9f94b632408f1f013240c50028006d/HINONACIONAL0709A.mp3

Ao ser proclamada a República aqueles que derrubaram a monarquia quiseram logo varrer seus vestígios e começaram  pelo Hino da Abdicação que D. Pedro II, ao assumir, oficializou como canto oficial da côrte, justamente porque homenageava seu pai Pedro I.  Assim no dia 20 de janeiro de 1890, uma comissão reuniu-se e entre quatro finalistas escolheu o novo hino do Brasil.

Ocorre que não ele caiu no agrado e em todas as solenidades o velho Hino da Abdicação é que o povo entoava. Não restou ao presidente da República Rodrigues Alves,  em 1906, criar outro concurso para escolha de uma nova letra mantendo-se porém a velha melodia do Hino da Abdicação. Ganhou o concurso que durou três anos, já no governo de Epitácio Pessoa em 1909, a letra de Osório Duque Estrada que, sem ter conhecido Francisco Manuel da Silva, tornou-se seu parceiro muitos anos depois de sua morte.

Milton Parron

Milton Parron começou a carreira em 1960 e testemunhou os grandes acontecimentos policiais, esportivos, políticos e culturais em São Paulo e no Brasil. É um dos maiores repórteres da história do rádio brasileiro.

17 comentários

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  • Adoro conhecer o passado. Nos faz mais fortes e inteligentes pra enfrentar o futuro.
    Seja bem-vindo, mestre Parron. Abraços, Eliane Leme

    • Eliane querida. Muitos anos atrás quando engatinhava aqui na Band, o Zé Paulo me disse: “voce certamente conhece ótimos amigos e grandes profissionais mas tenha presente o nome daquela moça”, apontando-a. ´”É única. Ética, capaz, durona, sensível”. Esqueceu-se de me falar da sua outra qualidade, o ser humano que se esconde atrás de uma grande timidez. Eu é que me sinto honrado de poder estar neste seu espaço. Bjs Parron

    • Obrigado Verinha, você é daquelas figurinhas que não passam em vão pela vida da gente. Me lembro até da primeira vez que falei com voce, no Procon da av. Angélica. Procon ou Sunab? Não importa, o principal é que me esqueci da repartição mas não me esquecí da funcionária. Bjs e obrigado pelo estímulo.

  • Hoje apresentei a solenidade cívica no colégio em que leciono e vi muitos brasileiros emocionados no momento do hino. É inexplicável o poder de algumas músicas. Parabéns pelo seu longo trabalho de pesquisa.

    • Um privilégio isso que você fez hoje. Infelizmente poucos se dedicam à essa tarefa atualmente. Parece que se envergonham diante da nossa Bandeira e ouvem o Hino Nacional como se estivessem curtindo um pagode qualquer. Abs

  • Mas que coisa deliciosa! Era o que faltava! Aprender história através de fatos curiosos! Extremamente útil para quem se interessa pelo assunto. Parabéns! Se eu já o admirava pelo “Ciranda da Cidade”, agora mais ainda!

  • Fico feliz por mais este canal de divulgação da história do país.
    Eu bem sei das riquezas do teu arquivo sonoro, e das potencialidades do CEDOM.
    Ao longo dos oito anos que trabalhei contigo, aí no CEDOM, descobri e lapidei inúmeras preciosidades sonoras, e tu, como mestre, desvendava a voz, o fato, a data. Aprendi muito contigo, podes ter certeza disso.
    Eternamente grato. ((Do Gaúcho, ao mestre, com carinho)).

  • Adorei a ideia! Vi a chamada no site da band e não resisti. Poder compartilhar fatos da nossa história é maravilhoso. Principalmente para pessoas que, como eu, não trabalham diretamente com essa temática. Fazer esse mergulho no tempo, relembrar dos fatos há muito tempo lidos, estudados, será um prazer! Abraços

  • Parabéns, Parron.

    A internet precisava de um espaço como este há tempos. Desejo toda sorte nesse novo desafio.

    Como admirador do seu trabalho radiofônico, no Ciranda e no Memória, serei também na internet. Esse endereço agora faz parte do meu “itinerário cybernético” (risos).

    Ah, aproveito e agradeço, mais uma vez, a conversa que tivemos no feriado.

    efusivo abraço,
    Decio Caramigo Neto

  • Ouço a Bandeirantes desde 1980, quando tinha 13 anos. Me orgulha como Paulista, ser daqueles que tem uma rádio para ouvir e me informar. Com a sua inciativa do Blog, vc e a Bad, presta um grande serviço aos paulistas e aos brasileiros. Meu Parabéns!!!
    Devo dizer que ao longo do tempo discordei muito do Zé Paulo, do Salomão e de Você, com a maturidades de todos inclusive de vcs, vejo que acertei em escolher vcs como meus preferidos. Forte Abraço

  • Tive aulas de canto orfeônico na década de 60 com um professor e maestro, Antonio S. Fratantonio. Eu e meus colegas cantávamos os hinos oficiais lenda pauta! Não me lembro dessa história que achei fantástica. Como professora fiquei encantada. Uma senhora que conheço que conheço, me disse que existe uma introdução cantada, que foi esquecida posteriormente. Pode me dizer se corresponde á verdade? Um abraço.

  • Caro Parron,

    Que bom que agora terei as informaçoes históricas que nao posso tirar de ti quando raramente conversamos.
    Pessoalmente nos conhecemos a pouco tempo, mas sempre fui teu ouvinte e agora serei com certeza teu leitor.
    um grande abraço

    Joao Junior

    • Fátima, obrigada pela atenção. Ainda não publiquei no blog sobre o Vanzolini. Irei programar. Aviso pelo face da Débora e no CIranda da Cidade.

Milton Parron começou a carreira em 1960 e testemunhou os grandes acontecimentos policiais, esportivos, políticos e culturais em São Paulo e no Brasil. É um dos maiores repórteres da história do rádio brasileiro.

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