Príncipe dos advogados

O advogado Waldir Troncoso Peres, o Espanhol

Era um tempo em que os julgamentos nos dois únicos Tribunais do Júri da Capital repercutiam na imprensa. Há 46 anos, em 1974, foi julgado perante o segundo Tribunal do Júri o delegado Sérgio Paranhos Fleury, acusado de chefiar o denominado “esquadrão da morte”.

Naquele júri ele era acusado pela execução de João de Souza Cruz, vulgo Dedé, que teria sido colocado dentro de um saco de estopa de 60 quilos e jogado no porta malas de um carro para ser assassinado em local distante dali.

Roubou a cena, do começo ao fim, o brilhante advogado Waldir Troncoso Peres, o Espanhol, como era carinhosamente chamado por todos os que lhe eram próximos. Encarregado da defesa do réu, Troncoso Peres, durante sua sustentação, abriu um saco, também de 60 quilos, com a inscrição: café – exportação, e tentou de todas as maneiras se acomodar dentro do mesmo. Chegou a se deitar no chão e não houve meio de conseguir o intento, mesmo sendo de compleição física menos avantajada que a vítima.

Com isso, arrancou gargalhadas da plateia, mas convenceu os jurados de que a prova da acusação era inverossímil. O delegado Paranhos Fleury foi absolvido por unanimidade: 7 votos a 0.

Já de madrugada, ao ser encerrada a sessão do Júri, os jornalistas questionaram o advogado sobre a cena do saco e as gargalhadas. Brilhante e rápido nas respostas, Waldir Troncoso Peres disse o seguinte: “ser palhaço é o preço que pago para livrar da cadeia um inocente”.

Nos anais dos Tribunais do Júri são incontáveis artifícios como esse, utilizados por um dos mais expressivos criminalistas do Brasil e que lhe valeram centenas de vitórias ao longo da carreira.

Uma das muitas entrevistas que fiz com Waldir Troncoso Peres, foi em 1994 para o jornal da Associação Paulista de Magistrados, Tribuna da Magistratura, da qual eu era editor. Ele começou falando sobre a difícil relação entre clientes e advogados e da desconfiança que existe entre eles:

Waldir Troncoso Peres, paulista de Vargem Grande do Sul, faleceu em São Paulo em abril de 2009, aos 86 anos de idade. À beira do túmulo, a maioria presente se recordou do dia em que ele recebeu, em 1989, o prêmio da Espada e da Balança da OAB/SP. Ao agradecer ele disse: “Pedi a meus filhos, como última vontade, que me enterrem de beca. Se a vida for uma contingência e eu amanhã tiver que me mineralizar, pelo menos estarei envolto no suor da minha beca com a qual honrosamente ganhei a minha vida”. Sua vontade foi cumprida.

Milton Parron

Milton Parron começou a carreira em 1960 e testemunhou os grandes acontecimentos policiais, esportivos, políticos e culturais em São Paulo e no Brasil. É um dos maiores repórteres da história do rádio brasileiro.

1 comentário

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  • Prezado Parron,

    Espero que possa lembrar-se de mim, sou o Angelo Valerio, que faz alguns anos tive a oportunidade de lhe ministrar cursos de GPS Garmin la pelo Campo de Marte…Mais precisamente na Aristek.
    Caso possa, gostaria de um contato do sr atraves do meu email a.valerio@domonet.com.br pois tive um problema de ter sido vitima de um golpe de um grande anunciante da Rede Bandeirantes, e até o momento nao consegui nenhum contato ou resposta as minhas reclamacoes.

    No aguardo…sincera admiraçao

    Angelo Valerio

Milton Parron começou a carreira em 1960 e testemunhou os grandes acontecimentos policiais, esportivos, políticos e culturais em São Paulo e no Brasil. É um dos maiores repórteres da história do rádio brasileiro.

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