Com fuga de jogador, Brasil colecionou vexames na Copa do Mundo de 1930

Há exatamente 90 anos, no dia 13 de julho de 1930, eram realizados, simultaneamente, dois jogos de futebol na cidade de Montevidéu. No estádio Gran Parque Central, a seleção dos Estados Unidos derrotou a da Bélgica por 3 a 0, e no estádio Pocitos, a França goleou o México por 4 a 1. A importância desses jogos é que eles abriram o campeonato mundial de futebol de 1930, e a relevância daquele campeonato é que ele foi o primeiro dessa que é hoje a maior competição futebolística do mundo, aguardada com ansiedade a cada quatro anos por praticamente todos os povos.

Treze nações filiadas à Fifa foram convidadas e participaram daquele mundial de 1930, entre elas o Brasil, que, aliás, disparadamente ficou com o troféu DESORGANIZAÇÃO.

Também pudera! Para chefiar a delegação, em vez de um dirigente de futebol foi nomeado o diretor da Federação de Tiro ao Alvo; o massagista Johnson tinha uma particularidade interessante: ele nunca havia massageado alguém em toda a sua vida; enquanto que o nosso técnico se desdobrava também com a atividade de médico do elenco. E as aberrações não ficaram por aí. Basta dizer que pelo fato dos cartolas cariocas terem rompido com a cartolagem paulista, a CBD, hoje CBF, dirigida por cariocas, decidiu não convidar nenhum paulista para integrar a comissão técnica daquele selecionado, e como retaliação a Associação Paulista de Esportes Atléticos, que antecedeu a FPF, não permitiu que os clubes paulistas cedessem jogadores para a copa de 1930.

Mesmo assim, convocaram o atacante Araken Patusca, que estava deixando o Santos transferindo-se para o São Paulo. Para contornar o impasse, o Flamengo tentou atravessar o negócio entre o Santos e o São Paulo valendo-se de uma cláusula que impedia a estreia imediata de Araken no Tricolor.

Não deu certo e os dirigentes paulistas decidiram impedir de qualquer forma que o jogador se integrasse clandestinamente à Seleção, conforme havia se manifestado publicamente. Para escapar à vigilância dos cartolas, o craque embarcou no navio no porto de Santos disfarçado de tripulante e ficou dois dias trancafiado numa minúscula cabine de onde não saia nem para respirar ar puro no convés:

Com tanta avacalhação, é claro que o Brasil caiu fora do primeiro campeonato mundial de futebol, em 1930, ainda na fase de grupos. O vencedor da competição foi o Uruguai, que derrotou a Argentina no jogo final por 4 a 2. Enquanto em Buenos Aires os torcedores apedrejavam a embaixada uruguaia, do outro lado do Mar del Plata era decretado feriado nacional e a “inchada” da celeste cantava pelas ruas:

O atacante argentino Francisco Varallo, que era o último jogador vivo que tinha participado do jogo final da copa de 1930, faleceu no dia 30 de agosto de 2010. Quanto a Araken Patusca, santista de nascimento, foi lá mesmo, em Santos, que ele faleceu em janeiro de 1990, aos 85 anos de idade.