TRAPALHADA TERMINOU EM TRAGÉDIA

Imagine-se na seguinte situação: você e mais meia centena de pessoas a bordo de um avião, a noite, sobrevoando região de selva, nem um vilarejo a menos de 50 quilômetros. O voo já deveria ter chegado ao destino há mais de duas horas e de repente a voz do comandante invade a cabine dizendo que o sistema de navegação está em pane e o combustível está acabando. Já pensou? Foi exatamente o que viveram os 48 passageiros e 6 tripulantes a bordo de um avião da Varig do voo 254 que fazia a rota São Paulo Belém, com várias escalas:

Essa é a voz do comandante daquele voo, César Garcez , nos minutos que antecederam o pouso forçado do Boeing, com os motores apagados por falta de combustível, a noite, e no meio de mata fechada. Das 54 pessoas a bordo, 42 sobreviveram como por milagre. Isso aconteceu no dia 03 de setembro de 1989. Várias horas mais tarde chegou o socorro e entre os sobreviventes estava o comandante Garcez e o copiloto Nilson Zille. Garcez recebeu tratamento de herói no seu desembarque no Rio de Janeiro:

Durou pouco a pompa e circunstância. Não foi difícil descobrir a trapalhada cometida pelo comandante e seu copiloto, com participação direta do Departamento de Operações da Varig. Foi esse departamento que elaborou o plano de voo entre Marabá e Belém estabelecendo o rumo magnético 0270. Desprezando-se o decimal, como era norma da empresa para aquele tipo de avião, significava proa 027. Ocorre que a companhia tinha outros tipos de aeronaves em que no plano de voo eram considerados os decimais. Desta forma os pilotos daquele fatídico voo, por falta de atenção, foram induzidos a uma falsa interpretação. Em vez de voar para o rumo norte, na proa 027 graus, voaram para o rumo oeste, 270 graus. Acabou o combustível sem terem chegado a lugar algum. Depois desse erro coletivo grosseiro, a companhia padronizou os dados introduzidos em seus planos de voo. Os dois pilotos tiveram os seus brevês cassados e não puderam mais voar.

Milton Parron

Milton Parron começou a carreira em 1960 e testemunhou os grandes acontecimentos policiais, esportivos, políticos e culturais em São Paulo e no Brasil. É um dos maiores repórteres da história do rádio brasileiro.

6 comentários

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  • Houve um erro básico de navegação.
    Não entendo que o “zero à esquerda”, a falta de ponto ou vírgula no “0270”, justifiquem um avião que pretendia voar direção norte, ou seja proa a 0 graus a 5 graus, direcione o voo a 270 graus. Não à luz do dia no final de tarde num dia com céu claro e poucas nuvens no céu. Decolou e assumiu a proa. O sol deveria estar à esquerda da cabine pois trava-se de voo sul-norte com apenas 2,7graus de invlinção em relação zero (quee dá o “norte”. Como a tripulação pode aceitar uma rota oeste “270”? Ferndando Magalhâes, Pedro Álvares Cabral ou Cristovão Colombo não aceitariam…
    assumida a proa programada, ainda com céu claro e poucas náuvens, ambos pioloto e copiloto deveriam ter checkado e rechckado a roto no início do voo.
    Se olhar o atlas de geografia se vê que Belém fia 0 a 5 graus norte de Marabá.
    Piloto e copiloto tinham de perceber isso. Não o fizeram. O copiloto muito menos experiente que o pilolo não se sentiu a vontade para contestar a decisão do comandante. Foram punidos criminalmente. De maneira igual piloto e copiloto. Queiro que a maior carga de responsabilidade deveria ser atribuída ao piloto/comante.
    Não acho que a Varig deveria ser responsabilizada por não ensinar o óbvio. O Sol nasce no oriente e se põe no ocidente. Se vamos a Note o sol deve estar à esquerda. Básico em navegação desde sempre. Navegar APENAS por números… “Big Miskatake” .

  • Garcez e Zille foram induzidos ao erro e caíram numa armadilha. Tanto é que outros pilotos quase foram pelo mesmo caminho mas tiveram sorte de perceber a falta de clareza na instrução nos números e depois do acidente a empresa viu que ela estava errada e mudou o procedimento. As coordenadas da direção não estavam claras para os pilotos.Covardia que fizeram com eles.Foram crucificados,principalmente o comandante Garcez que se o que o Zille falou ,foi verdade,parece que realmente foi arrogante e prepotente.Mas isso não altera o fato de que os dois caíram numa arapuca ,a do do zero à esquerda.Foram banidos da aviação comercial de forma totalmente injusta.

  • TENHO QUASE CERTEZA DE QUE, QUANDO GARCEZ NÃO AVISTOU ( BELEM ) APÓS TER COMPLETADO O TEMPO DE VOO, DISSE A SI MESMO ( ESTOU PERDIDO ), E TEM MAIS, EM MOMENTO ALGUM SE PREOCUPOU EM DAR SUA LOCALIZAÇÃO.

  • Arrogância e prepotência, essa é a cara da tragédia que poderia ser evitada. Salve, Zille, punido injustamente. Comandante da gloriosa Varig, era considerados quase: semi-Deus, intocaveis!!. Essa era a merda que um dia poderia causar o que houve.

Milton Parron começou a carreira em 1960 e testemunhou os grandes acontecimentos policiais, esportivos, políticos e culturais em São Paulo e no Brasil. É um dos maiores repórteres da história do rádio brasileiro.

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