Em maio de 1973, o cantor Gilberto Gil apresentou um show na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, evento gratuito promovido pelo Movimento Estudantil daquela universidade. Para efeitos de liberação por parte da censura, tratava-se de um espetáculo de música, mas o pano de fundo era um protesto contra a intensa repressão promovida pela ditadura militar contra os meios artísticos e de comunicação em geral. Os promotores do evento fizeram três perguntas entre si mesmos: qual a natureza do show? Estrelado por quem? Dirigido a que tipo de público? Pelas respostas óbvias, não foi difícil supor que muitos agentes policiais poderiam estar infiltrados na plateia, o que não impediu o artista baiano de mandar seus recados provocativos a torto e a direito, sob aplausos delirantes dos universitários:
Não houve nenhum confronto, nenhuma provocação, nenhuma tentativa de interromper a apresentação. Se estavam infiltrados, os agentes prudentemente se fingiram de mortos em meio a uma multidão de estudantes e professores inflamados. O menos recomendável naquele momento era confrontá-los, e assim o espetáculo foi realizado até o fim sob muitos aplausos.
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