O escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues disse certa vez que o brasileiro tem complexo de vira lata. Cáustico ao extremo, foi além afirmando que “o brasileiro é um narciso às avessas, despreza a própria imagem, nunca encontra pretextos pessoais ou históricos para exibir um pouco de autoestima”.
A data de 26 de maio remete a uma reflexão sobre essa afirmação de Nelson Rodrigues. Foi nesse dia, há exatamente 50 anos, que uma equipe de médicos chefiada pelo professor Euryclides de Jesus Zerbine, realizou no Hospital das Clínicas, um dos feitos mais extraordinários da medicina brasileira, o primeiro transplante de coração do Brasil e da América Latina. O brasileiro pouco fala sobre isso, mas não se esquece do massacre da Detenção, do incêndio no Joelma, do “Maracanaço” de 50 e outros assuntos que não nos engrandece. Pouco antes de sua morte, entrevistado na rádio Bandeirantes, o professor Zerbine lembrou detalhes daquela cirurgia na qual foi transplantado o coração de um cadáver no peito de João Ferreira da Cunha, que passou para a historia com o apelido que carregava em vida, João Boiadeiro:
O segundo transplantado de coração no Brasil, também em 1968, Hugo Orlandi, teve uma sobrevida de pouco mais de um ano. Ainda hospitalizado, recuperando-se da delicada cirurgia ocorrida vinte dias antes, tive autorização para entrevista-lo:
Desde então houve uma evolução fantástica e só no ano de 2016 foram realizados 356 transplantes de coração no Brasil e no ano passado foram 380, sendo que o INCOR, que foi criado graças ao professor Zerbine, que também foi seu primeiro diretor, é o centro médico onde mais se realiza esse procedimento em todo o Brasil. Foi nesse mesmo hospital que o ilustre médico faleceu de câncer, aos 81 anos de idade, no dia 23 de outubro de 1993.
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