Há certas coisas da política de antigamente que deixaram muita saudade. Não está em discussão a honestidade, a dedicação, a competência, a qualidade moral dos políticos. Em maior ou menor escala, o que aí está, sempre aqui esteve. O que deixou saudade para muita gente foi o modelo de campanha eleitoral, principalmente os comícios que mobilizavam os bairros da Capital e cidades inteiras do Interior. Algumas chegavam a decretar feriado quando o comício era de candidato muito popular como Getúlio Vargas, Jânio Quadros, Adhemar de Barros, Juscelino Kubitschek etc. A propaganda no rádio era resultado de produções do melhor bom gosto. Verdadeiras novelas seriadas, com capítulos diários de 5 minutos irradiados geralmente três vezes ao dia e aguardados com ansiedade. Ouçam trecho da propaganda de um dos candidatos ao governo de São Paulo em 1950. O texto é do genial Osvaldo Moles, narração Randal Juliano, uma das vozes mais bonitas do rádio daqueles tempos, interpretação musical do Trio Madrigal que veio do Rio de Janeiro especialmente para essa gravação:
Em compensação, um quarto de século mais tarde, graças as novas regras impostas pelo regime militar para a propaganda eleitoral, ficamos assim:
Durante meia hora os candidatos da Arena e depois mais meia hora com a turma do MDB. Imagine uma hora escutando isso! Lembrando que a Arena e o MDB foram criados em 1966 acabando com o multipartidarismo no Brasil. A Arena era o partido do governo e o MDB agrupava a oposição. Em 1979 o bipartidarismo foi revogado e a Arena foi rebatizada de PDS e o MDB virou PMDB e para fazer-lhes companhia foram criadas dezenas de novas agremiações, algumas com o único objetivo de alugar seus espaços no rádio e na tv a quem pagar mais, não importando a que corrente ideológica pertença.
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