As pessoas associam a imagem de Roquette Pinto à implantação do rádio no Brasil, fato que é verdadeiro. Ele e seu companheiro, também antropólogo, Henrique Moritze realmente fundaram a rádio Sociedade do Rio de Janeiro que começou a operar em 1923, sendo a pioneira do Brasil. Porém, Roquette Pinto, fez muito mais que isso especialmente no campo da antropologia e, graças às suas corajosas excursões embrenhando-se pelas selvas, o Brasil muito aprendeu sobre os povos primitivos que já habitavam o País quando os portugueses aqui chegaram.
Após quatro meses de viagem, o antropólogo Edgard Roquette Pinto voltou para casa, no Rio de Janeiro, no dia 26 de novembro de 1912, com uma bagagem que pesava cerca de 1.500 quilos, entre anotações, desenhos, objetos coletados em aldeias indígenas, filmes e gravações do canto de índios. Ele havia caminhado pela região da Serra do Norte, entre os atuais estados de Mato Grosso e Rondônia, acompanhando a Comissão Rondon – uma expedição organizada para instalar linhas de telégrafo que ligassem vários estados do Brasil.
Pelo caminho – 1.300 quilômetros, entre os rios Juruá e Madeira –, fez várias observações sobre os índios que viviam na região, especialmente os Parecis e Nhambiquaras. Descreveu-os como “a mais interessante população selvagem do mundo”. Muito pouco se sabia sobre eles antes de seu estudo, e tanto se descobriu!
O primeiro contato de Roquette-Pinto com os Nhambiquaras, por exemplo, aconteceu na noite do dia 20 de setembro de 1912 e foi emocionante. Nas palavras dele: “Avistamos, longe, uma fogueira. Eram eles. Apressamos o passo dos nossos animais; e, a grande distância, começamos a gritar, para preveni-los de nossa presença: Oh! Nen-nen! Nen-nen! (amigo! amigo!) Vieram logo, correndo e gritando”.
O antropólogo fez observações de atividades cotidianas, como coletar mel produzido pelas abelhas, preparar a mandioca, contar histórias e, também, descreveu adereços usados nas aldeias, como capacetes feitos com couro de onça e colares feitos com sementes, conchas, dentes de macacos e até chifres de besouros. E trouxe para o mundo civilizado um som que os brasileiros desconheciam, o canto dos índios Parecís gravado num primitivo cilindro de cêra, um dos mais antigos sistemas de gravação desenvolvido pelo homem. Essa gravação de 1912, nas selvas de Mato Grosso, é o mais antigo registro sonoro que se conhece dos índios do Brasil, graças a Edgard Roquette Pinto:
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