VIROU NA RUA AUGUSTA A 120 POR HORA

E depois de virar na rua Augusta em tamanha velocidade, ainda fez curvas em duas rodas num carro sem breque, sem farol e sem buzina e com três pneus carecas. Virou sucesso nacional tanto o pai quanto o filho não pela proeza porque essa estória só existiu na ficção musical. Rua Augusta, composta pelo pianista, maestro e compositor Hervê Cordovil foi gravada por seu filho primogênito Ronnie Cord em 1963 e ganhou as paradas musicais do Brasil inteiro.
Hervê, mineiro de Viçosa onde nasceu em 1914, menino ainda mudou-se com a família para o Rio de Janeiro onde completou os primeiros estudos e a seguir cursou Direito em Niterói. Advogou durante certo tempo em Manhuaçu (MG) e lá casou-se com Daicy Portugal com quem teve 4 filhos, um deles já falecido, Ronnie, que se tornaria figura importante do movimento pop brasileiro que se estruturou em torno da jovem guarda a partir de 1965.
Eu conheci o maestro Hervê por volta de 1962 quando dava os primeiros passos no rádio, no departamento esportivo da rádio Record comandado pelo querido Geraldo José de Almeida. Num grande estúdio da emissora onde era apresentado aos domingos, ao vivo, o rádio teatro Manoel Durães havia um piano de cauda onde eu me aventurava sempre, às escondidas, a executar umas valsinhas aprendidas no acordeon nos tempos de adolescência. Volta e meia me ajudava na tarefa, corrigindo os erros de compasso, o sanfoneiro Nininho, integrante do trio Torres, Florêncio e Nininho que tinha programa tres vezes por semana após o nosso que era irradiado das 18,00 às 18,30. Volta e meia, passando pelos corredores e ouvindo alguém no piano, o maestro Hervê abria a porta do estúdio sorrateiramente e lá vinha bronca: “desafinando o piano de novo?” Dia sim dia não, levava um “pito” ora do maestro Hervê, ora do maestro Ciro Pereira. Mas, seguida da bronca vinha a aula de ambos, sempre bem humorados e gentís. Gravei muitas vezes nossas conversas e principalmente as aulas, que era o que me interessava para poder decorar as notas musicais com mais facilidade. Hoje são documentos preciosos que guardo com muito carinho. Um amigo inseparável do maestro Hervê Cordovil nessa época era o produtor Osvaldo Molles, dono de um texto poético maravilhoso retratando o cotidiano e o linguajar das pessoas que viviam nos cortiços e malocas da cidade:


O maestro Hervê Cordovil morreu em julho de 1979. Deixou uma grande lembrança e uma vasta lista de composições, entre elas Pé de Manacá, A Vida de Viajante, Sabiá la na Gaiola, Cabeça Inchada, Me Leva, a já citada Rua Augusta e muitas outras

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