PASSA MOLEQUE NA CENSURA

A partir da gravação de “Apesar de Você”, entendida pelo comando da ditadura militar como uma ofensa ao ministro da Justiça, Armando Falcão, os diligentes censores do Serviço de Censura e Diversões Públicas passaram a vetar, sem ao menos ler, todas as letras assinadas por Chico Buarque de Holanda enviadas para a liberação daquele departamento. O compositor, sabidamente inteligente – e nem era preciso ser muito – inventou um nome fictício com o qual passou a assinar suas letras que, então, passaram a ser aprovadas com louvor. A estupidez dos censores era tamanha que não perceberam as mensagens embutidas nas letras de “Jorge Maravilha”, “Acorda Amor” e “Milagre Brasileiro”, tornando Julinho da Adelaide a figura mais comentada no País. Achavam que o cantor era um cover de Chico Buarque, porém o compositor não passava de um qualquer, cuja estampa não deveria favorecê-lo muito, já que sua imagem nem mesmo era divulgada. No auge dos comentários, em setembro de 1974, os jornalistas Mário Prata e Melchíades Cunha Júnior, amigos de Chico, o convenceram a dar-lhes uma entrevista para o jornal Última Hora, porém no papel de Julinho da Adelaide, nada de Chico Buarque, o que, aliás, também não era do interesse do artista. Tenho em meus arquivos pessoais a entrevista na íntegra que os dois me passaram uns 20 anos atrás. Genialidade de entrevistado e entrevistadores, assim pode ser resumida:
Só um ano mais tarde, em 1975, uma reportagem sobre censura publicada no Jornal do Brasil revelou que Julinho da Adelaide e Chico Buarque eram a mesma pessoa. Por causa dessa revelação, depois da porta arrombada, o serviço de censura da ditadura militar passou a exigir cópias do RG e do CPF dos compositores.

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