Vamos refletir sobre a São Paulo boêmia dos anos 40, 50 e 60, tempo dos bondes, dos taxi dancing, bons cinemas e bons restaurantes anunciados em pomposos letreiros iluminados a gás de neon e, tempo ainda, de uma malandragem quase sempre associada a vagabundagem e muito raramente à violência. Não se tirava a vida das pessoas com a trivialidade que hoje ocorre. A morte não se banalizara, ainda! Os malandros daqueles tempos gozavam de vida boa, muito mais em função dos otários metidos a espertos do que em razão da própria inteligência.
Jogadores de bilhar, ou de sinuca, são os exemplos mais clássicos dos malandros da época. O mais famoso, o mais citado, o mais imitado e mais invejado, o rei do taco, foi sem dúvida alguma o sergipano de Propriá, Walfrido Rodrigues dos Santos, conhecido por “Carne Frita”. Sua habilidade jogando sinuca era tão grande que seu apelido “Carne Frita” até hoje é usado para definir uma jogada extraordinária, de grande efeito. Muito cedo deixou sua terra e passou a viver no eixo Rio-São Paulo, onde os “patos” tinham mais dinheiro. Ele ganhou a vida dessa maneira, derrotando todo mundo, fazendo apostas milionárias, fingindo-se de novato no taco. Vestia-se com um luxo digno de lorde inglês calçando sapatos de pelica, gravatas de seda pura, camisas importadas:
Conheci “Carne Frita” em 1993 e com ele convivi durante 5 anos na Associação Paulista de Magistrados, eu na assessoria de imprensa e ele, na qualidade de funcionário humilde do Tribunal de Justiça, estava emprestado para a APAMAGIS, por solicitação do saudoso desembargador Francis Selwin Davis, para ensinar os associados a jogar sinuca. “Carne Frita” é uma figura indissociável da vida boemia de nossa cidade, tendo sido personagem de centenas de reportagens, de livros, citado em músicas e tema central do filme de Gianfrancesco Guarnieri (1976), O Jogo da Vida.