È um mero acaso, mas não deixa de ser uma feliz coincidência, a abertura da Copa das Nações com a seleção do Brasil enfrentando a seleção do Japão. É que o jogo acontece 3 dias antes de um evento marcante na história dos dois países. Onze horas e dezessete minutos do dia 18 de junho de 1908, atraca no armazém 14 do porto de Santos o vapor de bandeira japonesa Kasato Maru. À bordo estava a primeira leva de imigrantes japoneses, 781 ao todo, contratados para ajudar na colheita de café em fazendas paulistas. Ocorre que esse detalhe não lhes havia sido devidamente esclarecido resultando o sonho de aqui fazer fortuna, em um pesadelo terrível, afinal não conheciam nem a bebida quanto mais a planta que dá o café. A barreira do idioma, os costumes, os alimentos tudo se constituiu num martírio para aqueles imigrantes, entre eles um menino de 13 anos chamado Ryoichi Kodama. Em 1988 conheci o sr. Ryoichi e de tal forma me empolguei com sua história e sua lucidez, que gravei cerca de uma hora e meia de nossa conversa que ocorreu em sua casa na cidade de Presidente Prudente. Tinha, então, 9 3 anos de idade e na sua memória permanecia gravada a viagem de trem que eles fizeram da Hospedaria dos Imigrantes, no bairro do Brás, até as fazendas no interior paulista. Deram à eles, para comer, um pão redondo e muito duro, tipo italiano, que não conheciam e ficaram receosos de mastiga-lo. Pior, porém, foi a linguiça:
Muitos acabaram desistindo e voltaram ao Japão, porém, a maioria resistiu e aqui permaneceu constituindo famílias cujos descendentes, hoje, já mal conservam os traços característicos dos nipônicos que são os olhos puxados. Mais alguns grupos vieram para o Brasil até a década de 20, mas o menino Ryoichi permanece como figura emblemática, tendo sido, entre outros pioneirismos, o primeiro japonês a receber habilitação para dirigir no Brasil. Foi duramente injustiçado, como todos os demais, quando o governo ditatorial de Getúlio Vargas impôs severas restrições aos japoneses, alemães e italianos por ocasião da segunda guerra mundial. Sob a es túpida desconfiança de que pudesse ser um espião, confiscaram o caminhão com qual ganhava a vida. Mal sabiam que em campos da Itália, seu filho mais velho, Raul, como integrante da FEB – Força Expedicionária Brasileira – lutava contra as forças do eixo, das quais fazia parte o Japão. A contribuição que os japoneses deram para o desenvolvimento do Brasil é fantástica. No programa Memória, sábado as 23hs00 com reprise as 05hs00 do domingo PELA RÁDIO Bandeirantes AM, ouça a fantástica aventura da imigração dos primeiros japoneses que vieram para o Brasil em 1908.
Comentários (2)
É por isso que Milton Parron é uma figura emblemática do radio-jornalismo brasileiro. Seus programas, suas entrevistas,suas manifestações são sempre prazerosas de serem ouvidas.
Amigo "Villegas", saudade!
Um grande abraço