Anjo das pernas tortas

Passou completamente esquecido o dia 20 de janeiro. Nenhuma homenagem, nenhuma menção ao aniversário de morte de   Manoel Francisco dos Santos ocorrido no Rio de Janeiro  dia 20 de janeiro de 1983.   Ele era conhecido como “o anjo das pernas tortas” e o povo o chamava simplesmente de Mané Garrincha.  Jogou no Botafogo do Rio de 1953 a 1965, além da seleção brasileira tendo participado de três copas do mundo, 1958, 1962 e 1966.  No mundial de 62, no Chile,  dos 14 gols brasileiros,  quatro foram de Garrincha  e ainda deu assistência para outros dois.  Foi considerado o melhor jogador daquela Copa, além da Bola de Ouro também recebeu o troféu Chuteira de Ouro e mais o troféu Copa do Mundo, todos concedidos pela FIFA.  Foi incluído na seleção de futebol mundial do século XX  por votação de 250 dos jornalistas mais respeitáveis de todo o mundo.  Com todo aquele talento Garrincha nunca soube se valorizar.  Não ganhou muito e o pouco que faturou gastou em quinquilharias e também com bebida, tornou-se alcoólatra.  Para sobreviver, nos últimos anos de sua vida, já sem condição física para mostrar o belo futebol de outros tempos, andava fazendo jogos de exibição em pequenos clubes do interior do Brasil.  Na véspera de uma dessas exibições numa cidade do interior de Goiás, numa entrevista  para rememorar um pouco seus tempos de glória,  deu para  perceber o quanto Mané Garrincha era ingênuo:

Os invejosos de sempre, no auge da carreira do atleta diziam que Garrincha era burro, no sentido cultural.  Porém no seu mundo, o do futebol, Garrincha sempre foi um catedrático. O que ele fazia em campo era de uma inteligência incomum, embora  o que fazia fora de campo talvez justificasse os maldosos adjetivos.   Após uma série de problemas financeiros e conjugais, Garrincha faleceu no dia 20 de janeiro de 1983 aos 49 anos, vítima de cirrose hepática, em coma alcoólico.  Na época de sua morte,  já não recebia  convite  para jogar 15 minutos em amistosos recebendo míseros trocados por conta disso.  Estava arruinado física, mental e financeiramente.  Em seu epitáfio  está escrito:  “Aqui jaz em paz aquele que foi a Alegria do Povo”.  É  uma dolorosa  contradição,  se comparado com os dias de tristeza e dificuldades que marcaram seu final de vida.

Milton Parron

Milton Parron começou a carreira em 1960 e testemunhou os grandes acontecimentos policiais, esportivos, políticos e culturais em São Paulo e no Brasil. É um dos maiores repórteres da história do rádio brasileiro.

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Milton Parron começou a carreira em 1960 e testemunhou os grandes acontecimentos policiais, esportivos, políticos e culturais em São Paulo e no Brasil. É um dos maiores repórteres da história do rádio brasileiro.

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